USP cria réplica da Jules Rimet em impressão 3D em metal
No dia 21 de junho de 1970, a seleção brasileira de futebol tornava-se tricampeão da Copa do Mundo. O estádio Azteca, no México, assistiu à vitória por 4x1 do time canarinho sobre a Itália. Por ser o primeiro país a alcançar o “tri”. O Brasil ganhou a posse definitiva da taça Jules Rimet, que, em 1983, seria roubada (e derretida) da sede da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
Em 2020, ano do cinquentenário dessa conquista, um grupo de pesquisadores da USP - campus de São Carlos, resolveu criar uma réplica da famosa taça. O troféu está sendo produzido por uma equipe supervisionada pelo professor Reginaldo Teixeira Coelho, coordenador do Laboratório de Processos Avançados e Sustentabilidade (Lapras), da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP.
Ao contrário da peça original, em ouro e confeccionada pelo artesão francês Abel Lafleur, a versão da USP será em aço inoxidável com acabamento em ouro. Além disso, ao invés de processos artesanais, a manufatura da taça acontece por meio de novas tecnologias de impressão 3D em metais.
Segundo Coelho, a ideia de reproduzir a taça surgiu em novembro do ano passado, quando foi comemorado o cinquentenário do gol 1000 de Pelé. “Seria uma forma unir a divulgação da nova tecnologia de impressão 3D em metais e uma paixão nacional, que é o futebol”, diz o professor.
A ideia de criar, no Brasil, uma impressora 3D para metais nasceu da parceria que o Lapras mantém com a Romi. Coelho explica que, juntas, empresa e universidade tiveram a ideia de acoplar um cabeçote de impressão 3D em uma máquina dedicada à usinagem. “Contatamos a empresa Hybrid Manufacturing, da Inglaterra, que possui parceria com a Romi, para fornecimento de um cabeçote de deposição. Este conjunto - impressão e usinagem -, nós nomeamos como manufatura híbrida. Associamos, em uma mesma máquina, processos de adição e remoção de material”, explica Coelho ao Usinagem-Brasil. A tecnologia adotada para a impressão de metal é chamada de DED - Direct Energy Deposition.
Reginaldo Coelho também conta que a parceria do laboratório com a Romi permite a rápida implementação de melhorias na máquina, que, muitas vezes, apresenta vantagens sobre empresas pioneiras (japonesas) em manufatura híbrida. Entre os benefícios está a criação de um Código G especial para parametrização da impressão 3D em metal.
Fases do projeto - O processo de manufatura da réplica da Jules Rimet é composto por duas fases: impressão e acabamento. A etapa de impressão já foi realizada, já a de acabamento ainda está em desenvolvimento. “Esta fase está sendo mais difícil do que nós imaginávamos. A tecnologia de acabamento tem muitos detalhes e não pretendemos fazer nada manualmente. Queremos fazer o acabamento utilizando tecnologia de usinagem de alta velocidade”, destaca o coordenador do projeto.
Os testes para o acabamento estão sendo realizados em resina, material mais macio para usinagem. Nesta etapa final, o laboratório adquiriu fresas com diâmetro de 1 mm, para detalhes como as folhas que Nice (deusa grega da vitória) traz acima da sua cabeça. “É um processo bastante delicado, de microusinagem. Vamos tentar chegar bem próximo ao nível de detalhamento da peça original”, afirma Coelho.
A previsão era que a peça fosse concluída em janeiro, mas devido a alguns contratempos, a expectativa é de que esteja pronta em abril. A taça será doada para a CBF.
Texto: Sheila Moreira/Usinagem-Brasil - Fotos: Laís Veronese/Divulgação-EESC-USP
Fonte: Revista Usinagem Brasil