Infraestrutura é a locomotiva que pode levar à retomada da indústria
A indústria de máquinas e equipamentos deve fechar o ano de 2019 com um crescimento entre 1 e 2%, abaixo dos estimados 5% pela Abimaq no início do ano. De acordo com a própria entidade, não fosse o efeito câmbio (lembrando que as exportações respondem por quase 50% do faturamento do setor) o resultado negativo, de - 2%.
Para mudar esse cenário, agravado pela retração atual em alguns dos principais mercados consumidores de máquinas e equipamentos brasileiros no mundo, como é o caso da América do Sul, a esperança de um crescimento mais robusto nos próximos anos está na infraestrutura. “É preciso que se criem condições para que possam sair do papel os investimentos na área de infraestrutura. É uma área que tem reflexos em muitos setores, que demanda muita mão de obra (construção civil), promove o aumento da atividade econômica como um todo e que poderia elevar as baixas estimativas atuais para o PIB do próximo ano”, diz Mário Bernardini, assessor de Economia da Abimaq.
Para Bernardini, é fundamental que o governo tenha sensibilidade para colocar, junto com o ajuste fiscal, algumas medidas que possam auxiliar a retomada do crescimento. “No meu entender o investimento em infraestrutura é a única locomotiva que nos temos disponível neste momento para voltarmos a crescer”, afirma. “Se isto for feito com investimento externo ou privado ótimo, do contrário será necessário que o governo assuma o ônus e o bônus de fazer com investimento público. Ou então teremos um crescimento muito pequeno nos próximos anos, que não resolverá o problema de desemprego e será insuficiente para atender aos anseios da sociedade”.
Vale lembrar a existência de um grande número de obras paralisadas no País pelos mais variados motivos. Relatório do TCU - Tribunal de Contas da União, apresentado em setembro, apurou a existência de 14 mil obras paradas, envolvendo contratos num total de R$ 144 bilhões. Outro estudo, este apresentado no primeiro semestre, encomendado pela CBIC - Câmara Brasileira da Indústria da Construção, encontrou 1.400 obras paralisadas apenas no âmbito do PAC (Programa Aceleração do Crescimento).
Crescimento Mínimo - Levantamento recém-divulgado pela Abdib - Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base mostra que o investimento em infraestrutura no Brasil deve crescer em 2019, mas limitado à segunda casa decimal.
Segundo a entidade - que considera a infraestrutura como vital para a recuperação econômica -, o investimento em infraestrutura deve atingir 1,86% do PIB em 2019, contra 1,81% em 2018, ou seja, um crescimento de mero 0,5%. Em 2017, o indicador registrou 1,67% do PIB e, em 2016, 1,76%.
A pesquisa considerou os recursos públicos e privados aplicados em quatro grandes setores da infraestrutura: transportes, energia elétrica, telecomunicações e saneamento básico. Os dados foram apurados junto a empresas, órgãos públicos e agentes setoriais envolvidos com os investimentos no setor.
Por setor, a perspectiva da Abdib é de que os investimentos somem 0,52% do PIB em transportes em 2019 (contra 0,52% em 2018), 0,68% em energia elétrica (contra 0,65% em 2018), 0,45% em telecomunicações (contra 0,44% em 2018) e 0,21% em saneamento básico (contra 0,20% em 2018).
Segundo a entidade, a estagnação com a qual o Brasil convive nos investimentos em infraestrutura nos últimos anos, depois de uma queda acentuada entre 2014 e 2016, é fruto de uma redução tanto dos aportes públicos quanto privados no setor - muito mais acentuada por parte do setor público.
Entre 2014 e 2018, os investimentos em infraestrutura realizados pelo setor público recuaram 46,7%, enquanto os promovidos pelo setor privado apresentaram recuo de 17,5%. Os recuos mais significativos do investimento público foram registrados no setor de transportes (43,2%) e energia elétrica (69,1%). O saneamento básico (9,3%) também sofreu com a crise, mas de forma menos intensa, até porque o setor historicamente recebe poucos investimentos.
É um cenário distante anos-luz das necessidades do país. “O Brasil necessita de 4,31% do PIB de investimentos na infraestrutura por ano, ao longo de no mínimo dez anos seguidos, para reduzir os gargalos à competitividade e aumentar a produtividade”, afirmou o presidente-executivo da Abdib, Venilton Tadini.
Fonte: Revista Usinagem Brasil